Esteira

Author: Heitor de Oliveira /

Não sei se sou louco ou gênio, não sei se sou os dois ou nenhum. As vezes paro para pensar e me vem grandes idéias na cabeça, idéias que poderiam mudar a vida de muitos ao meu redor e que não há absolutamente nada para combatê-las. É estranho este sentimento, parece que sou dono do mundo, capaz de mudar o curso das coisas e mesmo assim me pego parado pensando, apenas pensando. Se eu fosse realmente capaz, faria tudo aquilo, exerceria minha profissão destino e me tornaria eterno, ou então, fracassaria como muitos já fracassaram. Quando cito 'muitos' nem sei de quem estou falando, mas eu sei que muitos fracassaram. Obviamente este pensamento não deveria me dominar, afinal os êxitos estão ali perdidos entre os muitos que não se deixaram levar por estas idéias. Gostaria que tudo fosse mais fácil, gostaria de pensar, agir e ter certeza de que tudo daria certo. Sou um sonhador, sim eu sou, mas deixo de sonhar toda vez que me iludo nessa vida rotineira. Trabalhos aqui, afazeres ali, nunca caminhando para frente.  É como se eu estivesse em uma esteira. Talvez,  se a minha vida não fosse uma esteira, as coisas dariam mais certo.

A senhora da vida

Author: Heitor de Oliveira /

Eu poderia perguntar ao mundo, quantas vezes eu quisesse, o que de tão belo há que meus olhos não conseguem enxergar ? A resposta obviamente não viria em palavras, nem sonoras, nem escritas. Eu esperaria, em todas as vezes que eu perguntasse, a resposta em experiências futuras, em vivências extraordinárias, paisagens belas e grandes amizades. 

Em uma noite de verão, andando por uma praça comum, daquelas cercadas com arbustos baixos e uma estreita trilha em areia clara traçando os caminhos por onde passar, avistei uma senhora sentada. No chão, ela cochichava alto com o vento que balançava seus cabelos cheios de areia. Me aproximei, querendo entender o que a moça falava. Desde o momento em que a reparei, não quis parecer intruso, logo me aproximei de maneira discreta e à medida que a distância diminuía, comecei a entender algumas palavras.
A noite estava clara, uma bela lua crescente quase em seu auge iluminava não só a praça, mas as nuvens brancas que passavam velozmente pelo céu. Eu, em plena inquietude com a curiosidade, quis me aproximar ainda mais até perceber a menina cantar. Com o vento uivando, não pude perceber de longe a melodia em uma voz sublime que a compunha. Aquela criança tinha como seu instrumento o som do vento, como platéia o verde da praça e um garoto intruso, e como palco um chão de areia. Ela cantava a canção da vida, versos belos sobre o céu e o mar, o sol e a lua, os sonhos e as estrelas. Me sentei ao seu lado e entrei em seu ritmo, eu parecia um recém nascido ao lado de uma menina que tinha o mundo para me mostrar, e eu, estasiado com a beleza que este tinha a me oferecer.
Eu poderia perguntar ao mundo, quantas vezes eu quisesse, o que de tão belo há que meus olhos não conseguem enxergar, mas seria tolice perguntar, bastava-me sonhar.