Um sorriso

Author: Heitor de Oliveira /

   O dia-a-dia as vezes parece estar complicado. Tem horas que da vontade de desistir dessa vida maluca, jogar tudo pro alto e viver de subsistência. Mas penso bem, será que é tudo tão complicado assim ? Será que não tem remédio ? É, as vezes vemos as coisas de uma forma mais complicada do que parecem, as vezes esquecemos de ver o fácil no meio do difícil. Quantas vezes já me deparei com uma tristeza profunda e quando ela passou olhei pra trás e vi que era tão fácil resolver. Se pudéssemos aprender a ver as coisas belas do dia, o sol nascendo e se pondo, a senhora atravessando a rua com as compras da feira na mão com um sorriso no rosto, as estrelas durante a noite ou até mesmo as nuvens com seus formatos bizarros zombando de nós. Parece que estão dizendo : 'como vocês são tolos'.
 
 E quando chegamos em casa e tem uma nota da pessoa amada dizendo : 'não esqueça nunca que te amo' ou um simples 'boa noite meu amor'; as ligações da família que mesmo quando estão ausentes nunca cessam, apenas para saber se está tudo bem. É, deveríamos mesmo aprender a enxergar o lado bom da vida. Entre tantos obstáculos e desafios há também tantas coisas boas, tantos momentos inesquecíveis, tantas emoções. Imagino que uma pessoa que saiba equilibrar bem esses dois lados, seja uma pessoa muito feliz, uma pessoa sensata e que não se deixa afetar por coisas mínimas. Esse controle pode significar uma vida melhor, mais aventurada, com mais riscos, com mais histórias pra contar.
 
  Digo tudo isso por me encontrar num estado que mesmo sabendo que essas coisas maravilhosas estão acontecendo, sei que não estou sabendo aproveitá-las e sei que a maioria das pessoas também não está. Busco essa lucidez, esse equilíbrio e espero um dia encontrar.

Distância não separa

Author: Heitor de Oliveira /

A distância não separa almas
Das noites mais frias
Às tardes mais calmas

A distância não separa corações
Dos mais tristes choros
Às mais lindas canções

A distância não separa vidas
Das brigas mais feias
Às pazes mais lindas.

Só o meu amor

Author: Heitor de Oliveira /

O dia pode amanhecer escuro, sem o canto dos pássaros na janela e a chuva caindo numa singular indelicadeza; a tarde pode ser nublada, o vento uivando no vitro e o som das músicas pode não mais ecoar; a noite pode ser fria, de uma solidão profunda e insonia inacabável. Mas eu nunca vou desistir do meu amor, porque só ele faz o sol nascer, iluminando minhas manhãs e doando voz aos pássaros tristonhos; só o meu amor pode trazer os raios de calor por entre as nuvens me dando a esperança de uma tarde clara com uma brisa passageira me lembrando a mais bela das melodias que trazem as ondas do mar; irrevogavelmente, só o meu amor é capaz me trazer a mais bela moça que invariavelmente é a única capaz de me aquecer nas noites frias e trazer de volta a alegria de dormir em sintonia. Eu nunca vou desistir do meu amor, o meu amor é capaz de mudar o mundo, o meu amor é capaz de tudo.

Desengano

Author: Heitor de Oliveira /

"(...)Dizem que há males que vem para o bem
Um amor se vai e outro logo vem
Como não há mal que não tenha fim
O que me fizestes foi um bem pra mim

Teu procedimento
Me fez infeliz
Deixando em meu peito
Uma cicatriz

Eu sei que um homem não deve chorar
Por uma mulher lhe abandonar
Mas acreditando nos carinhos teus
Com o desengano, quem chorou fui eu"


Ilusão

Author: Heitor de Oliveira /

Não é que está tudo acabado ! Tem volta. Um dia o amor volta, as canções tocarão novamente, a brisa será suave, os pássaros cantarão alegremente, as pessoas se respeitarão e confiarão mais umas nas outras. O mundo não acabou ainda, é apenas uma fase e é óbvio que os jovens voltarão a ter sentimentos, sem reclusas, os adultos darão melhores exemplos e os mais velhos se orgulharão de novo ! É apenas uma questão de tempo para o clima mudar e o calor vibrar em nossos corações outra vez. Se hoje é impossível se entregar ao amor, amanhã será como cair no sono, se hoje você não confia mais em mim, amanhã deixará sua vida em minhas mãos, se hoje o mundo é cinza, amanhã terá sete cores. Pena que é tudo ilusão.

São Paulo

Author: Heitor de Oliveira /

Olha como tudo estava indo bem: os dias amanheciam felizes, os pássaros cantavam na janela, o sol nascia em um brilho intenso cheio de calor, um calor que penetrava os olhos e os fazia lacrimejar. Quase todas as tardes os afazeres eram simples, algumas lições, uns livros para ler e metas a cumprir que eram invariavelmente cumpridas a tempo todos os dias. Minha amada ? Vivia sorrindo e eu retribuindo, conversávamos todos os dias pelo telefone e vez em quando, pessoalmente. Durante a noite o jantar era simples e era muito gostoso dormir cedo. Claro que vira e mexe eu me entretia em leituras complementares e acabava me perdendo no tempo, mas nada que me fizesse acordar tarde no dia seguinte. Acontece que uma vez o dia amanheceu escuro, o céu cheio de cinzas e os carros passavam inquietos atrapalhando o sono de todos. Saí de casa aos afazeres e descobri que não havia ali amigos; no almoço, acabei comendo sozinho; na volta para casa o meu pai não foi me buscar, tive de me virar; no jantar apenas um pão com queijo e na hora de deitar a sensação de incompleto. Foi assim quando deixei minha casa, foi assim quando minha vida mudou. É incrível como aguentei e aguento até hoje essa prisão. Não tenho amigos onde moro, não consigo terminar meus afazeres e ainda por cima me vem na cabeça as lembranças de um tempo que passou.

O jovem de hoje carece de amor

Author: Heitor de Oliveira /

Não é simplesmente dizer eu te amo, não é sair todos os dias juntos, ligar todos os dias antes de dormir. Isso se faz. Falta amor, ser amado, sentir na pele a emoção, o sangue aquecer e o coração bater veloz. Não se trata de usar as redes sociais e dizer publicamente, se trata de sair na chuva, cantando e dançando e gritar abertamente. É fazer com que os outros sorriem, porque o amor tem esse poder, não interessa se não é a sua pessoa amada, ele contagia todos que estão à volta, tem a capacidade de transmitir alegria ao seu redor. Não que o jovem de hoje  não ame, digo que falta amor, falta a entrega, ter apenas dezoito anos e pedi-la em casamento, ter apenas dezesseis e aceitá-lo. A mágica envolve aqueles que amam, os deixa inexplicavelmente felizes e dispostos. O amor não tira a fome, ele traz a vontade de dividir a comida com alguém, apenas para saborear as delícias do mundo ao lado de quem se ama. Ele não tira o sono, consegue trazer companhia para dormir. Também não traz dor, a dor é o oposto do amor. Escrever belas frases e enviá-las pelo celular não é suficiente, quem ama faz loucuras, se entrega de corpo e alma e vai de encontro ao respectivo e declara-lhe poemas, frases e canções, independentemente da inconveniência do mundo dinâmico que se vive. Aos poucos, as buzinas dos carros se tornarão perfumes, os gritos, paisagens floridas, as agressões, música. Essa é a magia que possuem aqueles que amam, esta é a que falta nos jovens de hoje.

Como eu te amaria em um domingo

Author: Heitor de Oliveira /

Meu desejo é acordar numa gélida manhã de domingo, sorrir, apenas admirando ela dormir em uma respiração profunda. Os pássaros já cantariam e nós poderíamos ouvi-los porque no domingo ali não passam mais carros. Aos poucos ela notaria que acordei e num breve susto de fim de sono ela olharia pra mim com cara de preguiça, viraria pro lado puxando minha mão para aconchegá-la, nada seria mais perfeito.  Quando já fossem dez horas da manhã nós acordaríamos ao mesmo tempo sorrindo um para o outro e nas mesmas vestes de dormir iríamos preparar nosso café da manhã na cozinha. Após uma breve caminhada no quarteirão deserto, voltaríamos para casa e começaríamos o almoço. Ela já apressada e inquieta com os preparos da comida e eu me esforçando ao máximo para ajudá-la e acalmá-la. Vez em quando a puxaria e a beijaria, um beijo simples sorrindo, daríamos gargalhadas de coisas a toa e o almoço seria agradável. Nós nos adoraríamos dia e noite, todos os dias.

Esteira

Author: Heitor de Oliveira /

Não sei se sou louco ou gênio, não sei se sou os dois ou nenhum. As vezes paro para pensar e me vem grandes idéias na cabeça, idéias que poderiam mudar a vida de muitos ao meu redor e que não há absolutamente nada para combatê-las. É estranho este sentimento, parece que sou dono do mundo, capaz de mudar o curso das coisas e mesmo assim me pego parado pensando, apenas pensando. Se eu fosse realmente capaz, faria tudo aquilo, exerceria minha profissão destino e me tornaria eterno, ou então, fracassaria como muitos já fracassaram. Quando cito 'muitos' nem sei de quem estou falando, mas eu sei que muitos fracassaram. Obviamente este pensamento não deveria me dominar, afinal os êxitos estão ali perdidos entre os muitos que não se deixaram levar por estas idéias. Gostaria que tudo fosse mais fácil, gostaria de pensar, agir e ter certeza de que tudo daria certo. Sou um sonhador, sim eu sou, mas deixo de sonhar toda vez que me iludo nessa vida rotineira. Trabalhos aqui, afazeres ali, nunca caminhando para frente.  É como se eu estivesse em uma esteira. Talvez,  se a minha vida não fosse uma esteira, as coisas dariam mais certo.

A senhora da vida

Author: Heitor de Oliveira /

Eu poderia perguntar ao mundo, quantas vezes eu quisesse, o que de tão belo há que meus olhos não conseguem enxergar ? A resposta obviamente não viria em palavras, nem sonoras, nem escritas. Eu esperaria, em todas as vezes que eu perguntasse, a resposta em experiências futuras, em vivências extraordinárias, paisagens belas e grandes amizades. 

Em uma noite de verão, andando por uma praça comum, daquelas cercadas com arbustos baixos e uma estreita trilha em areia clara traçando os caminhos por onde passar, avistei uma senhora sentada. No chão, ela cochichava alto com o vento que balançava seus cabelos cheios de areia. Me aproximei, querendo entender o que a moça falava. Desde o momento em que a reparei, não quis parecer intruso, logo me aproximei de maneira discreta e à medida que a distância diminuía, comecei a entender algumas palavras.
A noite estava clara, uma bela lua crescente quase em seu auge iluminava não só a praça, mas as nuvens brancas que passavam velozmente pelo céu. Eu, em plena inquietude com a curiosidade, quis me aproximar ainda mais até perceber a menina cantar. Com o vento uivando, não pude perceber de longe a melodia em uma voz sublime que a compunha. Aquela criança tinha como seu instrumento o som do vento, como platéia o verde da praça e um garoto intruso, e como palco um chão de areia. Ela cantava a canção da vida, versos belos sobre o céu e o mar, o sol e a lua, os sonhos e as estrelas. Me sentei ao seu lado e entrei em seu ritmo, eu parecia um recém nascido ao lado de uma menina que tinha o mundo para me mostrar, e eu, estasiado com a beleza que este tinha a me oferecer.
Eu poderia perguntar ao mundo, quantas vezes eu quisesse, o que de tão belo há que meus olhos não conseguem enxergar, mas seria tolice perguntar, bastava-me sonhar.